DOMINANDO SAMBA NO VIOLÃO

DOMINANDO SAMBA NO VIOLÃO

Fita Amarela

Noel Rosa nasceu de um parto muito difícil e complicado, que incluiu o uso de fórceps pelo médico obstetra, como medida para salvar as vidas da mãe e bebê. Além disso, nasceu com hipoplasia (desenvolvimento limitado) da mandíbula (provável Síndrome de Pierre Robin) o que lhe marcou as feições por toda a vida e destacou sua fisionomia bastante particular.

Nascido na Rua Teodoro da Silva, 130, no bairro carioca de Vila Isabel, foi primeiro filho do comerciante Manuel de Medeiros Rosa e da professora Martha de Medeiros Rosa.[5] Noel era de família de classe média, tendo estudado no tradicional Colégio de São Bento, onde, apesar da inteligência notável, não era aplicado nos estudos.

Adolescente, aprendeu a tocar bandolim de ouvido e tomou gosto pela música — e pela atenção que ela lhe proporcionava. Logo, passou ao violão e cedo tornou-se figura conhecida da boemia carioca. Em 1931 entrou para a Faculdade de Medicina, mas logo o projeto de estudar mostrou-se pouco atraente diante da vida de artista, em meio ao samba e noitadas regadas à cerveja. Noel foi integrante de vários grupos musicais, entre eles o Bando de Tangarás desde 1929, ao lado de João de Barro (o Braguinha), AlmiranteAlvinho e Henrique Brito.

Em 1929, Noel arriscou as suas primeiras composições, Minha Viola e Festa no Céu, ambas gravadas por ele mesmo. Mas foi em 1930 que o sucesso chegou, com o lançamento de Com que roupa?, um samba bem-humorado que sobreviveu décadas e hoje é um clássico do cancioneiro brasileiro. Essa música ele se inspirou quando ia sair com os amigos, a mãe não deixou e escondeu suas roupas, ele, com pressa perguntou: “Com que roupa eu vou?”

Noel revelou-se um talentoso cronista do cotidiano, com uma sequência de canções que primam pelo humor e pela veia crítica. Orestes Barbosa, exímio poeta da canção, seu parceiro em Positivismo, o considerava o “rei das letras”. Noel também foi protagonista de uma curiosa polêmica (Noel Rosa X Wilson Batista) travada através de canções com seu rival Wilson Batista.

Os dois compositores atacaram-se mutuamente em sambas agressivos e bem-humorados, que renderam bons frutos para a música brasileira, incluindo clássicos de Noel como Feitiço da Vila e Palpite Infeliz. Entre os intérpretes que passaram a cantar seus sambas, destacam-se Mário ReisFrancisco Alves e Aracy de Almeida.

Autodidata, Noel aprendeu a tocar bandolim de ouvido pelos bares da Vila Isabel e tomou gosto pela música. No ano de 1930, quando a canção popular começou a se firmar e o samba passou a definir a linhagem autêntica como raiz própria e brasileira. Noel Rosa ganhou destaque e preferência entre os ouvintes de rádio e participantes dos carnavais de rua do Rio de Janeiro. Sua música conquistava a todos pela autenticidade: falava de amor, de encontros desencontros, do cotidiano.

 

Registro profissional de Noel Rosa (1935).

Noel teve ao mesmo tempo várias namoradas e foi amante de muitas mulheres casadas. Casou-se em 1934 com sua noiva, uma moça da alta sociedade carioca, chamada Lindaura. Apesar de ter afeto e carinho pela esposa, era apaixonado mesmo por Ceci, apelido de Juraci Correia de Araújo, a prostituta do cabaré, e sua amante de longa data. Era tão apaixonado por ela, que ele escreveu e fez sucesso com a música “Dama do Cabaré”, inspirada em Ceci, que mesmo na vida fácil, era uma dama ao se vestir e ao se comportar com os homens, e o deixou totalmente enlouquecido pela sua beleza.

Foram anos de caso com ela, eles se encontravam no cabaré a noite e passeavam juntos, bebiam, fumavam, jogavam, andavam noite a fora sem destino, principalmente pelo bairro carioca da Lapa, onde se localizava o cabaré. Ele dava-lhe presentes, joias, perfumes e ela o compensava com noites inesquecíveis de amor. Ele queria tirá-la da vida e fazê-la sua esposa, mas seria um escândalo social e a família jamais aceitaria uma meretriz na família.

Ele pensou melhor e tentou dar uma casa para Ceci, para que ela só se deitasse com ele, onde se encontrariam escondidos e a sustentaria. Ceci se recusou, não queria depender de homem para sobreviver, e queria alguém que a assumisse como esposa. Após mais alguns anos juntos, o ciúme doentio de Noel por Ceci a fez terminar a relação, que ficou entre indas e vindas por um bom tempo, até que se afastaram de vez.

Tuberculose e morte

 

Carta de Noel Rosa a seu médico em 1935

Em depressão por alguns meses pela separação de Ceci, Noel passou os anos seguintes travando uma batalha contra a tuberculose. A vida boêmia, porém, nunca deixou de ser um atrativo irresistível para o artista, que entre viagens para cidades mais altas em função do clima mais puro, sempre voltava ao samba, à bebida e ao cigarro, nas noites cariocas, cercado de muitas mulheres, a maioria, suas amantes.

Mudou-se com a esposa para Belo Horizonte, para tratar de seu problema pulmonar, ainda inicial e não transmissível pelo ar, e para salvar seu casamento, já que gostava de sua esposa, mas ela ameaçava se separar, pois não suportava mais as traições e bebedeiras do marido, mas se separar naquela época era um peso e uma vergonha enormes para a mulher, e por isso Lindaura reconsiderou, e também queria salvar seu matrimônio.

Sem planejar, Lindaura engravidou, mas sofreu um aborto espontâneo no meado de sua gestação, e, devido as complicações por causa da forte hemorragia, afetando seu aparelho uterino, não pôde mais ter filhos, o que a deixou muito revoltada e deprimida. Foi por isso que Noel Rosa não foi pai, o que o deixou muito mal, já que era seu maior desejo.

Da capital mineira, escreveu ao seu médico, Dr. Graça Melo: “Já apresento melhoras/Pois levanto muito cedo/E deitar às nove horas/Para mim é um brinquedo/A injeção me tortura/E muito medo me mete/Mas minha temperatura/Não passa de trinta e sete/Creio que fiz muito mal/Em desprezar o cigarro/Pois não há material/Para o exame de escarro”. Trabalhou na Rádio Mineira e entrou em contato com compositores amigos da noite, como Rômulo Pais, recaindo sempre na vida boêmia.

O fato de não ter parado de beber e fumar, não fazer repouso absoluto e continuar pegando sereno nas madrugadas, pioraram sua tuberculose. De volta ao Rio, sentindo -se bem melhor, parou com as medicações, e jurou estar curado, mas poucos dias depois adoeceu fortemente, não conseguindo mais se alimentar e nem levantar da cama, e faleceu repentinamente em sua casa, no bairro de Vila Isabel no ano de 1937, aos 26 anos, em consequência da doença que o perseguia a alguns anos.

Deixou sua esposa viúva e desesperada. Lindaura, sua mulher, e Dona Martha, sua mãe, cuidaram de Noel até o fim. Seu corpo encontra-se sepultado no Cemitério do Caju no Rio de Janeiro.

Fonte: Wikipédia

Letra

Fita Amarela

Composição: Noel Rosa

Quando eu morrer
Não quero choro, nem vela
Quero uma fita amarela
Gravada com o nome dela

Quando eu morrer
Não quero choro, nem vela
Quero uma fita amarela
Gravada com o nome dela

Não quero flores
Nem couroa com espinho
Só quero choro de flauta
Com violão e cavaquinho

Quando eu morrer
Não quero choro, nem vela
Quero uma fita amarela
Gravada com o nome dela

Quando eu morrer
Não quero choro, nem vela
Quero uma fita amarela
Gravada com o nome dela

Se existe alma
Se há outra encarnação
Eu queria que a mulata sapateasse no meu caixão

Quando eu morrer
Não quero choro, nem vela
Quero uma fita amarela
Gravada com o nome dela

Quando eu morrer
Não quero choro, nem vela
Quero uma fita amarela
Gravada com o nome dela

Os inimigos
Que hoje falam mal de mim
Vão dizer que nunca viram uma pessoa tão boa assim

Os inimigos
Que hoje falam mal de mim
Vão dizer que nunca viram uma pessoa tão boa assim

Quando eu morrer
Não quero choro, nem vela
Quero uma fita amarela
Gravada com o nome dela

Quando eu morrer
Não quero choro, nem vela
Quero uma fita amarela
Gravada com o nome dela

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